Dia Internacional de Luta Contra a LGBTIfobia expõe violências, passa apagado e continua sendo vítima de preconceito

Hoje é o Dia Internacional de Luta Contra a LGBTIfobia. Mas não é tão colorido, famoso e comercial quanto o junho do Orgulho, então poucas serão as iniciativas reais – de maioria do poder público e do terceiro setor. Mas então por que a comunidade LGBT+ não dá tanta importância para o 17 de Maio quanto dá para o 28 de junho?

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A resposta não é tão simples, envolve aspectos dos mais diversos, como aceitação, estética e preconceito. Aceitação porque o 17 de Maio lembra as diárias violências que sentimos, traz números de assassinatos que jogam na cara sermos o país que mais mata LGBT+ no mundo todo. É um assunto espinhoso para os players comerciais. É uma discussão que, dita o preconceito, pertence aos militantes – apenas a eles.

Todos de esquerda, todos a favor da pedofilia, querendo destruir a família, todos tantas coisas absurdas que infelizmente ouvimos. É este tipo de omissão, de ausência provocada por uma visão torta, que “pesa” a data de hoje. Há exatamente 32 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirava o CID-6, onde a homossexualidade foi tratada pela primeira vez como patologia e desvio sexual.

É muito melhor, acreditam, exibir em junho drag queens coloridas maravilhosas, arcos de bexigas em arco-íris na Avenida Paulista, avatares em redes sociais cheios dos nossos símbolos – mas vazios de qualquer proteção real para quem anda na rua, para quem é demitido, para quem passa fome, para quem é assassinado – sempre com requintes de crueldade.

Há exatamente 32 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirava o CID-6, onde a homossexualidade foi tratada pela primeira vez como patologia e desvio sexual.

É muito mais estético e vendável ter orgulho em vez de morrer. Porque o 17 de Maio é sobre violências e um passado de “doença”. E a LGBTfobia, no Brasil, é considerada crime por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). 17 de Maio é coisa de delegacia, 28 de Junho é coisa de shopping. Mas obviamente quem está na linha de frente faz o mesmo barulho nos dois (e em todos os) meses.

A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) lembrou do “impacto dos discursos de ódio na rede social na vida das pessoas trans. As plataformas digitais, redes sociais e outro meios de comunicação online devem intensificar o enfrentamento dos discursos de ódio que tem consequências na vida off-line e ainda podem levar ao adoecimento e ao suicídio”.

Para a vereadora em São Paulo (SP) Erika Hilton (PSol), a data representa a urgência de se pensar na comunidade considerando a diversidade de suas necessidades. “Dia de visibilidade e luta por direitos para nossa comunidade. Emprego, saúde, renda, educação libertadora, combate à violência, inclusão, moradia”, opina.

Para Toni Reis, da Aliança Nacional LGBTI+, Grupo Dignidade e Rede Gaylatino, é preciso também se atentar para o fato que 2022 é um ano eleitoral – e que o futuro é moldado agora.

É muito mais estético e vendável ter orgulho em vez de morrer. Porque o 17 de Maio é sobre violências e um passado de “doença”.

Divulgando a campanha “Vote Com Orgulho”, ele aponta que “hoje é dia de lembrarmos que a violência contra a população LGBTI+ agride, mata, rompe laços familiares, expulsa pessoas de suas casas, da escola. Não dá acesso ao trabalho, dignidade, cidadania e exercício pleno de direitos enquanto pessoa cidadã”.

Para Toni, “é um dia para lembrar à sociedade global que devemos mudar essa realidade para que a humanidade evolua de forma harmoniosa e fraterna”. Seguimos.